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Carta Capital

‘Movimento da Ford vai se alastrar: outras multinacionais vão abandonar o Brasil’

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A decisão da Ford de encerrar a produção de veículos no Brasil, que monopolizou o noticiário econômico entre a segunda-feira 11 e esta terça-feira 12, pode ser apenas um capítulo da fuga de multinacionais do Brasil, cujo ambiente de negócios é nocivo e que tem à frente um governo que resolveu iniciar uma ofensiva contra essas empresas. A avaliação é do economista e professor da USP Paulo Feldmann.

 

 

“Os países têm de demonstrar que a economia está indo bem e que, assim que a pandemia passar, o consumo vai voltar. Isso não é o que acontece no Brasil”, destaca o especialista em entrevista a CartaCapital.

Nesta terça, o presidente Jair Bolsonaro atacou a Ford e declarou que faltou à empresa “dizer a verdade: eles querem subsídios”.

“É mais uma afirmação idiota que coloca contra o Brasil as empresas multinacionais. É claro que as multinacionais, para virem para o Brasil, precisam de incentivo, senão não vir. Com todas as dificuldades do Brasil, se a gente não oferecer incentivos, aí é que elas não vêm mesmo”, acrescenta Feldmann.

Ao anunciar a decisão de finalizar a produção de veículos no Brasil, a Ford afirmou, em nota assinada pelo CEO Jim Farley, que “essas são ações muito difíceis, mas necessárias, para a criação de um negócio saudável e sustentável”.

“Estamos mudando para um modelo de negócios ágil e enxuto ao encerrar a produção no Brasil, atendendo nossos consumidores com alguns dos produtos mais empolgantes do nosso portfólio global”, completou.

A produção nas fábricas de Camaçari, na Bahia, e Taubaté, em São Paulo, será interrompida imediatamente. No último trimestre, será fechada a planta da Troller, em Horizonte, no Ceará. Serão mantidos somente o Centro de Desenvolvimento de Produto, na Bahia, e o Campo de Provas, em São Paulo.

Leia a seguir os principais pontos da entrevista com Paulo Feldmann, realizada nesta terça-feira 12:

 

CartaCapital: É razoável o governo federal dizer que foi pego de surpresa pela decisão da Ford?

Paulo Feldmann: Não é razoável. Primeiro, porque tinha fechado a fábrica [de São Bernardo do Campo, no ABC paulista] em 2019. Então, já era um sintoma de que alguma coisa não estava indo muito bem. Então, não tem como dizer que é surpresa. Surpresa seria a GM fechar uma fábrica, porque não fechou até agora nenhuma no Brasil. Mas a Ford já tinha fechado. O fato não é uma surpresa também por causa do que está acontecendo no mundo.

No mundo inteiro, há um movimento forte das montadoras de abandono dos países aonde elas foram no passado em busca de mão de obra barata. Mão de obra barata está deixando de ser um fator importante como foi no passado, porque as montadoras são grandes usuárias de robôs. E o uso de robôs estava crescendo muito no mundo até 2019. Em 2019, foram vendidos mais de um milhão de robôs, recorde. Muito maior que em 2018. Porque houve um grande barateamento no preço.

No Brasil, temos de ter consciência de que isso vai acontecer com outras montadoras também. Infelizmente, essa é uma tendência inevitável com a qual teremos de lidar. Não é só o uso de robôs, mas o uso de tecnologias em geral que poupam mão de obra. Além dos robôs, houve um grande barateamento nas impressoras 3D. Se a gente não tomar cuidado, o Brasil vai virar um grande estacionamento de impressoras 3D.

As multinacionais vão embora e vão deixar as impressoras para eventual fabricação de alguns produtos mais simples, menores. É um problema sério principalmente para os países que exploraram seu crescimento com base na mão de obra barata. E isso, em parte, foi o caso do Brasil.

 

CC: Bolsonaro diz que o País está quebrado e não apresenta um plano pós-pandemia. Isso contribui para a decisão da Ford?

PF: Com certeza. Uma outra coisa muito importante para essas empresas: os países têm de demonstrar que a economia está indo bem e que, assim que a pandemia passar, o consumo vai voltar. Isso não é o que acontece no Brasil. O ano de 2021 vai ser muito difícil. Deve haver uma queda considerável no consumo, desemprego muito alto, o fato de não existir mais o auxílio emergencial que salvou o Brasil em 2020… Isso significa que o Brasil vai ter uma grande queda no PIB.

Uma empresa como a Ford está lá na matriz, nos Estados Unidos, olhando o mapa do mundo e indicando as alternativas que ela tem para o que ela vai fabricar fora do país. Ela olha para o mapa mundial e vê onde fabricar. Aí, quando vê o Brasil, vê uma situação econômica que será ruim neste ano, inclusive com volta de inflação. Todo o rombo fiscal monstruoso, o segundo maior do mundo, inflação voltando, desemprego altíssimo… Tudo isso afugenta as multinacionais. Não só a Ford.

 

CC: Não deve ser uma decisão isolada?

PF: Eu acho que esse movimento vai se alastrar: outras multinacionais vão abandonar o Brasil. Mas tem um fato muito importante também: essas empresas multinacionais olham muito para o ambiente de negócios nos países. Quando uma multinacional olha para o ambiente de negócios pavoroso que nós temos, comparado até com os vizinhos latino-americanos, a empresa pensa: ‘poxa, por que eu tenho que ficar no Brasil?’. Resumindo: tudo isso reflete no Custo Brasil. Fabricar no Brasil sai caro, por causa desse ambiente de negócios ruim que o Brasil tem.

A gente não pode culpar somente o governo Bolsonaro: o custo do transporte no Brasil é muito alto há muitos anos, a carga tributária também – tem aumentado nos últimos anos, mas é um problema sério do Brasil há pelo menos vinte anos. Então essas coisas acabam preocupando muito os dirigentes das multinacionais. Eu acho que o Brasil tem de estar muito preocupado com isso. E a gente teria de fazer um plano para saber como vai resolver isso tudo. Mas não tem plano.

 

CC: E o ministro Paulo Guedes?

PF: A única coisa que o Paulo Guedes sabe falar é das “reformas”. “Ah, a reforma administrativa é fundamental”. Por que ela é fundamental? A reforma tributária seria importante se ela aliviasse um pouco a carga tributária das empresas. A tributação no Brasil onera as pessoas jurídicas e as pessoas físicas mais pobres. O muito rico não paga Imposto de Renda no Brasil.

 

CC: Segundo Bolsonaro, “faltou à Ford dizer a verdade: eles querem subsídios”…

PF: Sobre esses incentivos, tem que se calcular o que vem em troca. No caso da [fábrica da] Ford na Bahia [na cidade da Camaçari], veio emprego, muito emprego. Então esses empregos foram ótimos. Isso acontece no mundo inteiro e é fundamental.

Essa afirmação do Bolsonaro é mais uma afirmação idiota que coloca contra o Brasil as empresas multinacionais. É claro que as multinacionais, para virem para o Brasil, precisam de incentivo, senão não vir. Com todas as dificuldades do Brasil, se a gente não oferecer incentivos, aí é que elas não vêm mesmo. Então, é uma afirmação muito inconveniente. Se você juntar isso às idiotices faladas contra a Pfizer, no caso da vacina, essas brigas do governo brasileiro com as grandes multinacionais deterioram muito rapidamente a imagem do Brasil lá fora.

Para não falar do problema que o governo brasileiro está tendo com a Huwaei, a chinesa de tecnologia 5G, o que é um outro problema, mas também é uma multinacional atacada pelo governo brasileiro. O governo brasileiro agora começou a brigar com empresas internacionais e isso não vai acabar bem, porque pode provocar uma reação forte. O Bolsonaro deveria moderar as palavras quando se refere a empresas multinacionais.

 

Leia o texto completo em Carta Capital
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